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Mais um Alcides?



Lembro-me como se ontem fosse, da trágica morte do estudante de biomedicina Alcides do Nascimento. O vitorioso menino negro, morador da periferia do Recife, filho de mãe catadora, que tinha um sonho: ser alguém que contribuiria para uma sociedade melhor.

Posso vislumbrar, talvez essa não teria sido sua realidade, que Alcides, uma vez formado, se engajaria em ajudar e motivar outros jovens de sua e de outras comunidades a almejarem algo além da vida marginalizada, à qual praticamente todos aceitam como sina, sem nem questionar ou imaginar que existe faculdade e que eles podem ter uma profissão diferente.

Como Alcides, lembro-me bem de Pipo, uma criança meiga, filho de uma mãe esquizofrênica, com três irmãos, dos quais um preso, outro vivendo pelas ruas como usuário de cola de sapateiro. O pai era um homem admirável, precisava trabalhar dia a dia nas ruas do Recife para conseguir alimentar a família.

E o Pipo?
Pipo, com pouco mais de 6 anos foi vítima de bala perdida enquanto brincava na rua da comunidade. Recordo, com um aperto no peito, quando soube da morte dele. Era só um menino.
Essas tristezas de quem vive em comunidade magoam o coração. Ou, senão, deixam a gente em estado de letargia, nada importa mais, não dói, nem alegra.

Fico me questionando, quanto um governo pode destruir ou impedir que a gente sonhe. Quando se retira políticas públicas voltadas para a educação ou quando um ministro da educação diz que a faculdade não é para todos, o quanto de sonhos não são destruídos, quantos engenheiros, médicos, arquitetos e professores ficam pelo caminho?

Dizem que quem é de comunidade está fadado ao fracasso, mas conheço tantos Alcides, Alcides que lecionam em faculdades de renome, Alcides que fizeram mestrado, doutorado, Alcides engenheiros, Alcides ...

E Pipos?
Também conheço alguns. No Rio de Janeiro é o que mais tem acontecido nos últimos meses. Crianças indefesas vítimas de bala perdida.
Discordo com veemência que as crianças são o futuro do país. Crianças são o presente, é fundamental protegê-las, oferecer segurança, educação, dignidade aos moradores da periferia de canto a canto desse país.

Corrupção deveria ser punida.
Retirada de direitos dos menos esclarecidos e da população mais vulnerável deveria ser crime hediondo, sem concessão de graça, anistia e sem progressão de regime.

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